"Numa palavra, [os homens] distinguiram-se dos animais pelo trabalho. Paralelamente, impuseram-se restrições conhecidas pelo nome de interditos. (...) Já que o trabalho, ao que parece, engendrou logicamente a reação que determina a atitude diante da morte, é legítimo pensar que o interdito que regula e limita a sexualidade também foi um contragolpe ao trabalho (...). [(...) por se tornar alheia ao interdito sem o qual não seríamos humanos, a baixa prostituta se degrada à categoria dos animais: (...) uma espécie de rebaixamento, imperfeito sem dúvida, deixa livre curso ao impulso animal. O rebaixamento tampouco é uma volta à animalidade. 

(...) Aqueles que vivem em sintonia com o interdito – com o sagrado – que não rejeitam do mundo profano em que vivem atolados, nada têm de animal, ainda que, muitas vezes, os outros lhe neguem a qualidade humana (...). A prostituta de baixo nível (...) não apenas está decaída, mas é-lhe dada a possibilidade de conhecer sua decadência. Ela se sabe humana."

(BATAILLE, 2017, p. 54; 159-160, grifos do autor)