"O erotismo do homem difere da sexualidade animal justamente por colocar em questão a vida interior. O erotismo é, na consciência do homem, o que nele coloca o ser em questão. A sexualidade animal também introduz um desequilíbrio, e esse desequilíbrio ameaça a vida, mas o animal não o sabe. Nada está aberto nele que se assemelhe a uma questão. Seja como for, se o erotismo é a atividade sexual do homem, isso ocorre na medida em que ela difere da dos animais. A atividade sexual dos homens não é necessariamente erótica. Ela só o é quando deixa de ser rudimentar, simplesmente animal. (...) No mundo animal, (...) o olfato, a audição, a vista, e mesmo o paladar, percebem signos objetivos (...). Nos limites humanos, esses signos anunciadores têm um valor erótico intenso. (...) O objeto do desejo é diferente do erotismo, não é o erotismo inteiro, mas o erotismo passa por ele. (...) O erotismo, que é fusão, que desloca o interesse no sentido de uma superação do ser pessoal e de todo limite, é, entretanto, expresso por um objeto. Estamos diante deste paradoxo: diante de um objeto significativo da negação dos limites de todo objeto, diante de um objeto erótico."

 (BATAILLE, 2017, p. 53-54; 154, grifos do autor)