Este é um "blogue de artista" a abrigar a exposição online do projeto poético Edições AKANA, integrante da pesquisa de Pós-Doutorado “Literatura expandida do filme Aka Ana, de Antoine d’Agata: palavra e corpoimagem”, realizada por Maruzia Dultra, sob a supervisão do poeta Sandro Ornellas, no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia - PPGLitCult/ ILUFBA (2020-2021).

Retângulo vermelho com o seguinte texto: Um buraco não é um ponto. Um ponto é um adensamento no espaço. Mas o corpo, o corpo é um ponto no universo cheio de cavidades, que são buracos. Buracos vermelhos, buracos irrigados por vermelho-sangue. Vermelho-sangue é vermelho-vivo (kurenai), também chamado de ‘Vermelho Tóquio’. Buraco Vermelho é Aka Ana.
Retângulo preto com  a seguinte citação de Antoine d'Agata: “Deriva em espiral: mergulhar no círculo de corpos famintos. Cair neles como em um buraco.”
Retângulo vermelho com o seguinte texto: Você me chama Iku, mas meu nome é Rei. Você me chama Iku, mas meu nome é Kana. Você me chama Iku, mas meu nome é Kei. Você me chama Iku, mas meu nome é Saki. Você me chama Iku, mas meu nome é Nao. Você me chama Iku, mas meu nome é Izumi. Você me chama Iku, mas meu nome é Sayo. Você me chama madul, mas meu nome é Iku.
Retângulo preto com o seguinte texto: Desenhei a palavra que era a cicatriz de outra palavra. Cada palavra é a chave de outra palavra - e elas abrem-se umas às outras.
Retângulo vermelho com o seguinte texto: Eu não quero fazer poema, quero fazer amor.
Retângulo vermelho com a seguinte citação de Herberto Helder: “Escrevi a imagem que era a cicatriz de outra imagem. Cada imagem é a chave de outra imagem - e elas abrem-se umas às outras”
Retângulo preto com o seguinte texto: Eu não quero fazer poema, quero fazer amor.
Retângulo preto com a seguinte citação de Herberto Helder: “Mas o corpo é um buraco onde cai o corpo. Esta queda em si mesmo comporta uma ciência derradeira, o saber de uma luminosa profundidade física. (...) – e nada se transforma, nada nos olha face a face: somos o outro, o desaparecido das falas, aquele que se perdeu da conversação das imagens.”
Retângulo vermelho com a seguinte citação de Izumi: “Quando você me filma, a câmera grava minha imagem. Quando os clientes me olham, a memória deles grava minha imagem.”
Retângulo vermelho com  a seguinte citação de Antoine d'Agata: “Hotel Oishi, quarto 19, cama redonda e vermelha. As fendas das pálpebras como feridas cicatrizadas, o corpo dilacerado que se tensiona, contraindo-se em um sopro mudo, uma lágrima imóvel na pele do rosto, a chaga viva escorrendo suavemente.”
Retângulo preto com a seguinte citação de Midori YAMAHARA: “duas existências nuas que caíram uma sobre a outra por acaso”
Retângulo preto com  a seguinte citação de Antoine d'Agata: “Deixar-me submergir pelo entendimento fragmentado e perturbado do outro, pela brutalidade do desejo, tornar-me o epicentro de um complexo campo de filtros, espelhos e sombras.”
Retângulo vermelho com  a seguinte citação de Antoine d'Agata: “do que é fotografado só resta a textura”

As Edições AKANA são uma coleção editorial de artesanias analógico-digitais no formato de livros & pôsteres que expandem a noção de literatura. Ao esposar palavras & impressões do filme Aka Ana em páginas, é como se as Edições AKANA conferissem a elas o estatuto de Literatura na forma física tradicional – a bibliográfica. Porém o livro não está, aqui, em jogo como mero suporte. As tiragens únicas AKANAs recobram a dimensão cinematográfica de Aka Ana, já que “(...) o tal ‘suporte’ deixa de suportar depósitos gráficos para ser uma superfície extensiva, folhas ‘quase cinema’, um campo de aterrissagem para sinais transitivos, com alta voltagem poética.”, como nos fala Edith Derdyk em seu livro Entre ser um e ser mil. O que importa está esposado nas páginas, mas não somente isso, também materialmente embutido nos valores plásticos de transparência, opacidade, perfuração, relevo, vinco, dobra, brilho, cor, corte, desdobragem espacial, elasticidade, flexibilidade, textura e dureza, conforme elenca Júlio Plaza no texto "O livro como forma de arte". Está também nas relações que vão se formando entre uma página e outra, nos sentidos que se misturam ou mesmo na suspensão destes, nas associações imprevisíveis que se aninham à obra, clamando pelo verbo “VLER” proposto por Décio Pignatari, cuja leitura passa pela ponta dos dedos (embora não se trate do braille), pelas mãos e, às vezes, pelo corpo inteiro.

Videoperformance de montagem do Livro-bichobjeto (AKANA #0)